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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Livro: Aprender com a história? O passado e o futuro de uma questão



Fernando Nicolazzi
Helena Miranda Mollo
Valdei Lopes De Araujo
(organizadores)


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Eis uma orelha. Órgão ancilar, penduricalho de um corpo. Resumo do que se vai ler. Ler? Mas a orelha não se destina a ouvir? Órgão da audição, o que faz ela aqui na abertura de um livro? O que pode fazer uma orelha num livro sobre a escrita da história, sobre o aprendizado que o narrar a história por escrito é ou não capaz de proporcionar? Nascida da desconfiança e da rejeição da voz, a historiografia, que durante muitos séculos não teve dúvida sobre sua utilidade para a vida, até se arvorando à condição de mestra, hoje se debate em dúvidas sobre seu poder de ensinar algo e de ser capaz de servir de orientação ao futuro. Este livro é a materialização do debate em torno do aprendizado que podemos retirar da e na história. Tomada como escrita exemplar, com escrita preditiva, capaz de enunciar as leis do devir, a historiografia, que durante muito tempo se opôs à voz, à fala, buscando na objetividade e cientificidade de sua escritura a legitimação social, parece hoje querer ser ouvida. Será este livro um grito de socorro? Será por isso que ele precisa de uma orelha? A historiografia está precisando de audição, mais do que de edição? O que posso garantir ao leitor, não ao ouvinte, é que ele terá acesso a um coro de vozes, nem sempre concordante, coro de contentes e descontentes com a situação contemporânea do saber histórico. Tendo que concorrer com outras formas de construir o passado, o saber histórico, fragmentado em muitas possibilidades de abordagens, ainda oscila entre as certezas das metanarrativas historicistas – aquelas que afirmam que a história e o fazer história ainda fazem sentido e que estamos sempre tornando o passado melhor – e o enunciado do fim do cronótopo historicista, do fim do sentido para escrever e ensinar história. Viveríamos, pois, entre a síndrome das fundações e a síndrome dos fins, entre a moral da história e a história amoral. Habitaríamos um tempo marcado pelo fascínio em relação ao passado e, no entanto, tempo de desencanto dos historiadores e da historiografia consigo mesmos.

Mas seu eu disse desencanto, talvez seja porque esse momento – como sugerem Gumbrecht e Charbel – requeira a reconciliação da historiografia como a voz, com o efeito da voz, com o afeto da voz sobre o corpo. A historiografia reataria seus laços com a retórica, prestando atenção na e fazendo parte da vozcidade de nosso tempo. Tempo em que as orelhas voltaram a ter importância para o historiador, tanto quanto os olhos. A historiografia, que pretendeu dar a ver o passado, hoje talvez precise dar-lhe a ouvir. Se é tempo de desencanto, talvez a historiografia precise ser canto, música, paisagem sonora, ambiência, clima de ideias. Afetar os homens tanto pelos conceitos, como pelos efeitos estéticos. Ser não apenas logos, mas mythos e rituais. Não apenas erudição, normatividade e rigor à moda alemã, mas talvez inventividade, criação poética e sonoridade à brasileira. Este livro testemunha Esse dilaceramento, pois o mais brasileiro dos textos é escrito por um alemão e o mais alemão, por um brasileiro. Que ele seja lido e ouvido. Que não caia no olvido é o desejo dessa orelha. E orelha tem desejos? Porque não!

por Durval Muniz de Albuquerque Júnior

Professor-Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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